Jorge Goulart – O Rei do Rádio

Jorge Goulart – O Rei do Rádio

Por Patrícia Rodrigues

Jorge Goulart foi um dos maiores cantores da MPB. Dedicou sua vida à música. Possuía uma voz poderosa e um estilo único de cantar. Foi um exemplo como ser humano e como artista. Intérprete eclético, Jorge Goulart gravou diversos gêneros musicais. Entre seus maiores sucessos estão Laura, Dominó, Jezebel, Balzaquiana, Sereia de Copacabana, Além do céu e Mundo de Zinco. Em meados da década de 1950, quando ainda havia uma grande resistência aos sambistas do morro, levou para o rádio e para o disco músicas de compositores de escolas de samba. O primeiro grande sucesso de um desses sambistas, gravado por ele, foi o samba “A voz do morro”, de Zé Kéti. A música também fez parte do filme “Rio 40 graus”, em 1958.

Jorge Neves Bastos era seu nome de batismo. Nasceu no Rio de Janeiro, na Rua Araripe Junior, no Andaraí, no dia 16 de janeiro de 1926. Iniciou a carreira no rádio cantando em programas de calouros. Foi contratado de diversas emissoras como Tamoio, Tupi e Globo. Cantou também em “dancings” e circos.

Logo que começou a despontar nas noites cariocas, os amigos sentiram a necessidade de criar um nome artístico para o jovem cantor. Na época, a locutora Heloísa Helena fazia o comercial do “Elixir de Inhame Goulart”. Inspirados no anúncio, os colegas sugeriram o nome Jorge Goulart.

A estreia no disco foi em 1945, com duas composições de Benedito Lacerda e Aldo Cabral: a valsa “A volta” e o samba “Paciência coração”.

As primeiras gravações de Jorge Goulart não tiveram muita repercussão. O sucesso só veio em 1949, com a marcha “Balzaquiana”, de Antônio Nássara e Wilson Baptista, gravada para o carnaval de 1950.

Jorge Goulart atuou também no cinema. O primeiro filme foi “Também somos irmãos”, de José Carlos Burle. O excelente desempenho lhe rendeu um contrato de exclusividade com a Atlântida Cinematográfica. Depois vieram “Carnaval no fogo”, “Não é nada disso”, “Aviso aos navegantes”, “Garotas e samba”, entre outros. No filme “Tudo azul”, de Moacyr Fenelon, Jorge Goulart aparece cantando um de seus grandes sucessos: o samba “Mundo de Zinco”, de Antônio Nássara e Wilson Baptista. A música ficou em primeiro lugar no concurso de músicas para o carnaval de 1952.

 

O início da década de 1950 foi marcante para a carreira de Jorge Goulart. Vários discos do cantor alcançaram sucesso. Em junho de 1950, Jorge Goulart foi contratado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O sonho de todo artista na época. Cantou em quase todos os programas da emissora. Entre eles: Um Milhão de Melodias, Quando os maestros se encontram, Calendário Kolynos e Quando canta o Brasil.

Nessa época, apresentava-se também no Copacabana Palace, onde conheceu a cantora Nora Ney, com quem foi casado. No fim da década de 1950, excursionaram a diversos países do Leste Europeu e a China. Além deles, integravam o grupo: Paulo Moura, Conjunto Farroupilha, Dolores Duran e Carmélia Alves. Fizeram vários shows divulgando a música e a cultura brasileiras.

O sucesso no rádio e no disco fez com que Jorge Goulart fosse eleito o “Rei do Rádio”, no concurso organizado pela Associação Brasileira de Rádio, em 1952. Nessa fase de ouro de sua carreira, fez várias gravações de sucesso. Uma das mais belas interpretações deste período foi o samba-canção do compositor pernambucano Capiba intitulado “Cais do Porto”.

Em 1964, veio o Golpe Militar e instalou uma ditadura no Brasil. Jorge Goulart e Nora Ney foram dois dos artistas demitidos da Rádio Nacional pelo Ato Institucional número 1. O meio musical se fechou para os dois. Passaram então a excursionar por diversos países. Voltaram à Rússia e outros países do Leste Europeu. Foram também a Portugal e à África Portuguesa.

Ainda na década de 1960, Jorge Goulart estreou como intérprete de samba-enredo na Escola de Samba Império Serrano. Em 1965, a escola levou para a avenida o samba “Cinco bailes da história do Rio”, de Silas de Oliveira, Bacalhau e Ivone Lara. Goulart dizia que o único lugar onde se fazia “samba de chão” era no morro. Foi intérprete da escola durante oito anos.

O último disco de Jorge Goulart saiu do espetáculo “Oh! As marchinhas”, onde cantou com Emilinha Borba. O show foi escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin, e apresentado em 1981, na Sala Funarte. Entre os sucessos de carnaval cantados por Jorge Goulart está a marcha, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal, Cabeleira do Zezé.

 

Em 1983, Jorge Goulart encontrava-se em plena atividade quando foi diagnosticado um câncer na laringe. O cantor precisou ser submetido a uma cirurgia e perdeu a voz. Jorge Goulart não se entregou. Aprendeu a falar usando o esôfago. Ainda no INCA, realizou apresentações de suas músicas em playback, para arrecadar fundos e mostrar aos outros pacientes que a vida continua. Na época, afirmou em uma entrevista: “Na vida, fui um privilegiado. Deus me deu o dom divino de cantar. E eu distribuí minha alegria com o povo”.

Jorge Goulart seguiu realizando atividades filantrópicas, participando de eventos, dublando seus sucessos. Foi agraciado com a medalha Tiradentes. Também recebeu homenagens do Exército, do Colégio Pedro II e do Vasco da Gama, seu clube de coração.

Em 2007, casou-se com Antonia Lucia, que segundo os amigos foi sempre um verdadeiro Anjo da Guarda para Jorge Goulart. No dia 17 de janeiro de 2012 comemorou seu aniversário no Teatro Mário Lago, no Colégio Pedro II, com um show que emocionou a todos que estavam presentes. Foi sua despedida do público. Jorge Goulart faleceu no dia 17 de março, aos 86 anos de idade. Deixou a saudade do grande amigo que sempre foi e na Música Popular Brasileira deixou sua marca como um dos maiores cantores do Brasil.

 

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